Dia: 10 de agosto de 2022

Em São Sebastião, Especulação Imobiliária Pressiona Política de Preservação da Mata Atlântica - Modefica

Em São Sebastião, Especulação Imobiliária Pressiona Política de Preservação da Mata Atlântica

Ação judicial liderada pela Alemoa Empreendimentos Ltda busca reduzir a proteção ambiental na Praia do Engenho e Barra do Una. Ambientalistas temem que, caso aprovada, decisão enfraqueça a política pública de Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE) e traga insegurança jurídica para outras cidades litorâneas no país.

Fonte: Modefica
Matéria publicada em 4 de agosto de 2022

Uma disputa entre cinco empresas do mesmo grupo econômico, liderado pela Alemoa Empreendimentos, e a sociedade civil de São Sebastião, Litoral Norte de São Paulo, tem ameaçado o processo participativo que delimitou o Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE) da região. Apesar da ação ter foco na mudança de Zona 2 para Zona 4 das praias no sul da cidade, caso aprovada, irá suspender lei que abrange as quatro cidades do Litoral Norte. São Sebastião possui um histórico que se repete no litoral brasileiro: desenvolvimento desordenado, falta de saneamento básico, pressão imobiliária, supressão da Mata Atlântica e conflitos de terra com comunidades tradicionais.

O território municipal de São Sebastião abrange cerca de 100 km de costa, contendo em 70% de sua área o Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo São Sebastião. O território abriga espécies de animais e plantas ameaçadas de extinção, como a jaguatirica, o cachorro-do-mato e a palmeira-juçara, além de ter um relevante grau de proteção ao meio ambiente, por ter vegetação da Mata Atlântica em estágio médio e avançado de regeneração.

No período colonial, a economia de subsistência se baseava em produtos caiçaras. Na década de 50, foi construído o porto de cargas e, na década de 60, a maior unidade operacional da Transpetro. A partir deste momento, houve grande alteração econômica e urbana na cidade, gerando fluxo migratório de trabalhadores do norte de Minas Gerais para a construção do terminal e rede de transportes, energia e serviço. A especulação imobiliária tornou-se mais forte na década de 80, com o asfaltamento da estrada Rio-Santos. Para que as praias fossem ocupadas por empreendimentos imobiliários, as comunidades caiçaras foram desalojadas – nem sempre de forma pacífica como apontam alguns estudos – para locais mais próximos ao pé da serra.

Segundo o Plano Estratégico de Monitoramento e Avaliação do Lixo no Mar do Estado de São Paulo (PEMALM), o resultado imediato desta ação antrópica “se traduz em modificação da paisagem, descaracterização de comunidades tradicionais, alterações no perfil de ocupação do solo, supressão da vegetação nativa, assoreamento de córregos e rios, poluição das águas dos rios e costeiras e alteração e descaracterização dos ecossistemas costeiros”. Quanto ao saneamento básico, o estudo avalia que é “grande a carência por sistemas de coleta e tratamento adequados, tornando a maioria dos corpos d’água receptores em veículos de transporte de despejos in natura, e que podem, em determinadas circunstâncias, comprometer a balneabilidade das praias”.

Até 1997, não havia nenhuma atuação do município no Parque Estadual, até que, neste ano, foi criado o núcleo São Sebastião do Parque Estadual da Serra do Mar. Essa foi uma forma da Secretaria Estadual do Meio Ambiente resolver a falta de recursos humanos e materiais mínimos para controle do Parque, que antes era administrada pelo Instituto Florestal. Na época, o órgão ambiental considerou a situação “extremamente crítica” nos aspectos de proteção e regularização fundiária.

O processo participativo das ZEEs em São Sebastião
A última atualização do processo de Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE) foi promovido pelo Consema (Conselho Estadual do Meio Ambiente) e perdurou de 2010 a 2016. Participaram representantes de prefeituras, governo do estado, ONGs, associações de classe, de pescadores, comunidades tradicionais e universidades. Entre elas, estavam as empresas imobiliárias com o pedido de que as áreas que detém, um total de 6,5 milhões de m², pudessem ser desmatadas e alteradas em até 40%.

Esse pedido não foi atendido e, hoje, a região da Praia do Engenho e Barra do Una são consideradas de “alto grau de preservação ambiental”. “Imagine: discussões técnicas, audiências públicas, reuniões setoriais, oficinas. Foi um processo extremamente democrático”, afirma Maria Fernanda Muniz, advogada e presidente do Instituto Conservação Costeira (ICC). A entidade ambientalista atua como titular de conselhos estaduais, municipais e regionais – e um deles foi o Conselho de Zoneamento Ecológico Econômico do Litoral Norte.

O gerenciamento costeiro considerou critérios técnicos que balizaram que cada zona instituída tivesse suas características respeitadas. “Fizemos trabalho praia por praia, com uma equipe disciplinar formada por biólogos, engenheiros agrônomos”, relata, “é importante frisar que não somos contra o desenvolvimento, mas aquela zona é uma área alagada, um dos poucos remanescentes da Mata Atlântica”. Segundo a advogada, a justificativa dos empreendedores é que outros construíram no passado e eles gostariam de construir agora. E, a isso, ela rebate: “eles podem construir, só que em apenas 20% da área. Não podem construir condomínios e loteamentos naquele padrão Riviera [de São Lourenço]”.

Entenda a diferença das Zonas nas praias do Sul de São Sebastião:

Zoneamento Ecológico-Econômico Setor Costeiro do Litoral Norte

Zoneamento Ecológico-Econômico Setor Costeiro do Litoral Norte

Zoneamento Terrestre

Zoneamento Terrestre
Fonte: Governo do Estado de São Paulo.
Pode ser acessado em: http://cebimar.usp.br/media/cebimar/normas/sao-sebastiao.pdf

São cinco zonas que compõem o zoneamento da cidade: Z1, a mais restritiva, permite ocupação de 10% da área, com atividades voltadas para a cultura extrativista, ecoturismo e pesquisa científica. A Z2 é uma zona intermediária: ainda tem uma vegetação extremamente preservada, mas é factível de ocupação de 20%. São Sebastião não possui Z3, mas a Z4 permite a ocupação de 40% – esta zona já é considerada área urbana, permitindo loteamento de condomínios. Essa classificação é assegurada pelo Plano Diretor da cidade. Logo, o que desejam o grupo de empresas é poder desmatar uma área maior das suas propriedades.

Histórico sujo
A disputa imobiliária da Alemoa permeia o histórico de irregularidades fundiárias da cidade. Em 2012, uma ação penal movida pela 1ª Vara Federal de Caraguatatuba contra a Alemoa S.A. e seus representantes denunciou a ocupação irregular da terra indígena Guarani Ribeirão Silveira, em Barra do Una. A ação aponta que, apesar da denúncia ter sido feita em 2012, a criação de búfalos de forma irregular acontecia há 30 anos.

Nesse sentido, além de prejudicar a fauna e flora local – a terra indígena está nos arredores do Parque Estadual da Serra do Mar – os búfalos também eram uma ameaça à população. A Terra Indígena Ribeirão Silveira possui cerca de 474 indígenas, numa área de 9 mil hectares. Já naquela época, a empresa mostrava o interesse em implementar loteamento na região, pois os búfalos eram utilizados para impedir a regeneração da vegetação da Mata Atlântica.

Porém, o ICC aponta que a Alemoa também utiliza da proteção ambiental a seu favor. O grupo entrou com um pedido de redução de 90% do IPTU referente às terras situadas entre a Praia do Engenho e Barra do Una, no que diz respeito a 2014 e 2015, sob a alegação que o imóvel se encontra em uma área de alta restrição ambiental. No entanto, na lei municipal Nº 1317/1998, seção V, é informado que estão isentos de impostos imóveis particulares cedidos em comodato ao município, estado ou União para fins educacionais, com prazo de validade; a sociedades amigos de bairros; a aposentados e pensionistas que recebam pensões de até 2 salários mínimos; de associações beneficentes, a imóveis de propriedade de ex-combatentes ou viúvas de soldados da FEB (Força Expedicionária Brasileira).

A Alemoa, representada por dois escritórios de advocacia – Antônio Peluso e Edis Milaré – está, atualmente, pedindo uma indenização de R$ 400 mil ao ICC. “Estamos sofrendo um assédio enorme, estão nos atacando como se a gente tivesse alguma coisa pessoal contra eles. Imagina, você mudar um decreto estadual, suspender a assinatura do governador. Abre um precedente para outras áreas no município onde os empreendedores vão querer fazer a mesma coisa”, reflete Fernanda.

Segundo a advogada do ICC, as últimas duas décadas foram extremamente danosas em termos de degradação das águas e da qualidade da água nas praias de São Sebastião. “O crescimento desordenado, a falta de políticas públicas e fiscalização… A gente não tem esgoto”, enumera. De fato, a falta de saneamento básico no município não é um problema recente. Dados do IAS (Instituto Água e Saneamento) apontam que cerca de 24 mil moradores (26%) não têm acesso à água e 41,2% deles não têm esgoto coletado. Para o ICC, se o poder judiciário acatar o pedido de alteração de ZEEs, trará insegurança jurídica e estimulará novas incursões judiciais no mesmo sentido em quaisquer áreas preservadas no país.

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Dia do Manguezal 2022 em São Sebastião - ICC

Dia do Manguezal 2022

No dia 26 de julho, realizamos tradicionalmente ações de limpeza no manguezal da APA Baleia Sahy como forma de conscientização sobre esse importante ecossistema. Veja o que foi realizado este ano em parceria com a Prefeitura Municipal, Verdescola, SABS e comunidade local.

Em comemoração ao Dia dos Manguezais, tradicionalmente realizamos uma ação de conscientização sobre este ecossistema tão importante para a manutenção de vida do planeta. Este ano, a ação fez parte da programação de atividades organizadas pela Secretaria de Meio Ambiente de São Sebastião, com ações em diversos pontos com pequenos remanescentes de manguezal no município.

Nossos parceiros Instituto Verdescola, Sociedade de Amigos Barra do Sahy (SABS), estudantes, comunidade local e turistas estiveram conosco neste evento, que atraiu mais de 90 pessoas, divididas em grupos para limpeza em diversos locais no mangue do Rio Sahy. Em apenas uma hora de ação, retiramos mais de 100kg de lixo que poluíam a nossa bacia hidrográfica, trazendo assim um pouco mais de beleza e saúde para a APABS.

O objetivo da ação foi trabalhar e difundir os serviços ecossistêmicos prestados pelos manguezais, trazendo à tona sua importância para as questões climáticas e seu papel fundamental na proteção e preservação dos oceanos.

Além disso, realizamos o replantio de árvores de espécies nativas em áreas que estavam desmatadas ou com risco de erosão, reflorestando assim a mata ciliar e protegendo o Rio Sahy.

Dia do Manguezal 2022 em São Sebastião - ICC

Dia do Manguezal 2022 em São Sebastião - ICC

Dia do Manguezal 2022 em São Sebastião - ICC

Dia do Manguezal 2022 em São Sebastião - ICC

Seguimos confiando na conscientização ambiental de nossa comunidade, contamos com seu apoio!

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Produção científica para jovens e educação ambiental ICC e ETEC SS

Produção científica para jovens

ICC e Verdescola incentivam interesse em pesquisa e mundo acadêmico em estudantes do curso de agenciamento de viagens da ETEC São Sebastião por meio da produção de guias ambientais da APA Baleia Sahy.

De volta após o recesso escolar de julho, retomamos as atividades de produção científica junto aos estudantes do 2º ano do curso de Agenciamento de Viagens da ETEC de São Sebastião. Com a turma descentralizada, instalada na sede do Instituto Verdescola, estão sido desenvolvidos guias ambientais relacionados à APA Baleia Sahy, seguindo todos os protocolos e metodologias de iniciação científica.

As atividades desenvolvidas contam com o apoio do Instituto Verdescola e trabalham um complemento de conteúdo ambiental para os alunos matriculados no curso de Ensino Técnico Integrado ao Médio (ETIM).

Este material produzido pelos estudantes será apresentado na Semana Cultural e Tecnológica do Centro Paula Souza, que acontecerá nos dias 24, 25 e 26 de outubro na sede da FATEC/SS para estudantes universitários e também da rede pública de ensino do município de São Sebastião.

O objetivo deste trabalho é gerar conteúdo e dados científicos referente à APABS, o que nos dá mais embasamento técnico para a sua proteção e preservação. Além, é claro, de ajudar a despertar nos estudantes o interesse pelo mundo acadêmico.

Atividade de integração

Uma maneira de tornar mais leve o aprendizado dos alunos é mesclar com brincadeiras lúdicas, sempre com o objetivo da proteção e preservação da APA Baleia Sahy. Com isso, também em parceria com a ETEC e Verdescola, como atividade de integração entre estudantes, professores e coordenadores, os participantes puderam conhecer um pouco mais da APA através de um jogo da memória criado pela equipe do ICC.

Por meio do jogo, conseguimos trabalhar questões complexas e que se inter-relacionam, como o perímetro da APA, as regras de uso dessa Unidade de Conservação, os animais e plantas que ali habitam, entre outras questões relacionadas tanto à biodiversidade, como questões sociais e impactos no meio ambiente, assim como a cogestão desta importante unidade de conservação do município.

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Eco remada - remada ambiental no rio sahy - ICC

ICC comemora sucesso de mais uma Eco remada no Rio Sahy

Mais de 50 pessoas, incluindo moradores, turistas e parceiros da comunidade local, remaram rio acima aprendendo mais sobre a APA Baleia Sahy e a riqueza natural da nossa unidade de conservação ambiental.

No sábado dia 16 de julho, realizamos mais uma remada ambiental pelo Rio Sahy, um evento aberto à comunidade que integra educação ambiental, lazer e esporte de aventura em prol da conservação da APA Baleia Sahy.

Neste ano, participaram mais de 50 pessoas, entre moradores, turistas e parceiros da comunidade local, com o objetivo de conhecer e integrar-se à APABS. Além de conhecerem a área de preservação ambiental, os participantes puderam entender um pouco mais da atuação do ICC como co-gestor da unidade, incluindo nossas lutas e conquistas.

Eco remada - remada ambiental no rio sahy - ICC

Eco remada - remada ambiental no rio sahy - ICC

Com a utilização de diversos equipamentos de remada, como SUPs, canoas ou caiaques, os participantes tiveram a oportunidade de subir o Rio Sahy, tendo um novo ponto de vista da região, muito conhecida pelas praias, e admirando paisagens lindas na Mata Atlântica.

É fundamental que a comunidade se aproprie da APA Baleia Sahy, entendendo e disseminando as regras de uso desta unidade de conservação, multiplicando boas práticas e divulgando os potenciais atrativos desta área. Além de eventos como este, também é possível realizar passeios particulares. Acompanhe nossas redes sociais para saber como!

Instagram @institutoconservacaocosteira
Facebook /Institutoconservacaocosteira

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Comissão Interinstitucional de Educação Ambiental - CIEA - ICC

ICC segue na Comissão Interinstitucional de Educação Ambiental do Estado De São Paulo

Por meio da participação no CIEA, Instituto busca estimular o debate e a construção e implantação de políticas públicas relacionadas a Educação Ambiental em São Sebastião, com uma visão mais ampla de todo o Estado de São Paulo.

Pelo segundo ano consecutivo, o ICC manteve sua cadeira na Comissão Interinstitucional de Educação Ambiental do Estado de São Paulo (CIEA). As CIEAs são colegiados estaduais que têm como missão mais ampla refletir sobre questões públicas, tematizá-las e subsidiar o debate com vistas à construção de respostas na forma de políticas públicas de Educação Ambiental.

Essas comissões propõem, por exemplo, diretrizes que podem nortear as políticas, programas ou atividades relacionadas à educação ambiental no estado. Também participam das formulações dos Programas Estaduais de Educação Ambiental.

Para o ICC, continuar a participação neste colegiado é mais uma oportunidade de diálogo com outras instituições do estado para, desta forma, proporcionar a melhor forma de implantar e desenvolver a educação ambiental em São Sebastião. Isso acontece por meio de parcerias com instituições de ensino, ambientalistas, e de educação ambiental que atuam no território.

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Oficina ICC com Escola Municipal Henrique Tavares de Jesus em julho - Educação Ambiental

Oficina ICC com Escola Municipal Henrique Tavares de Jesus em julho

No mês de julho, APA Baleia Sahy recebeu visita de professores e alunos da Escola Municipal Henrique Tavares de Jesus, da Barra do Sahy, para atividades de educação ambiental e conscientização sobre preservação na unidade de conservação municipal.

Iniciamos o mês de julho com a visita dos professores e alunos do 5º ano da Escola Municipal Henrique Tavares de Jesus, da Barra do Sahy, na APA Baleia Sahy. Em um sábado, dia 2 de julho, cerca de 84 pessoas da escola parceira do Instituto Verdescola puderam participar de diversas atividades de educação ambiental em nosso laboratório ao ar livre na Unidade de Conservação Municipal.

Oficina ICC com Escola Municipal Henrique Tavares de Jesus em julho - Educação Ambiental

Oficina ICC com Escola Municipal Henrique Tavares de Jesus em julho - Educação Ambiental

Os participantes se dividiram em estações criadas com atividades diferentes, como a trilha para observação de aves, o passeio de barco pelos rios Sahy e Negro com parada técnica na ecobarreira (saiba mais clicando aqui), além de jogos lúdicos que tratam de assuntos como os problemas relacionados ao esgoto sem tratamento, além do descaso com os resíduos sólidos, entre outros.

Um dos objetivos desta atividade é integrar a comunidade escolar com as questões ambientais, além de dar autonomia e conhecimento técnico para que os educadores da rede municipal de ensino tenham expertise para trabalhar nas unidades de conservação inseridas em São Sebastião. Dessa forma, podem levar às aulas a temática da proteção e preservação da natureza, visando o bem estar do planeta, começando pela nossa região.

Essas ações fazem parte do programa de educação ambiental – uso público, previsto na gestão da Unidade de Conservação Municipal APA Baleia Sahy.

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